domingo, 9 de setembro de 2012

Eu não tenho medo

No meio da «tempestade perfeita» que se abateu sobre este país, confesso que demorei um pouco a escrever este post. Estava a ver se conseguia digerir as fantásticas notícias que o sr. Coelho decidiu largar que nem uma bomba nas vidas de todos nós, no entanto, passadas mais de vinte e quatro horas, a verdade é que tenho um nó no estômago; há uma náusea que me turva a visão e não consigo, repito, não consigo digerir tamanha falta de vergonha.
Sou uma pessoa simples, pacata, mas não sou estúpida, não sou simplória e não admito que me tratem como tal. Acredito na democracia e sempre acreditei no poder do meu voto individual. Acredito que necessitamos de ser um bicho especial para sermos filiados num partido, que necessitamos de não nos importar de nos sujarmos para navegarmos no Estige que é a política (e não só a portuguesa - nunca vivi no exterior, mas sigo suficientemente as notícias internacionais para pensar que se passa o mesmo em todo o mundo). Não sou esse tipo de bicho. Falta-me o instinto.
Contudo, cheguei à conclusão que tenho de arranjar esse instinto, que tenho de fazer algo mais do que confiar no simples poder do meu voto, que tenho de sair para a rua, que tenho de bater o pé, de gritar, de dizer que basta: não sou estúpida, não sou simplória e atingi o limite no meu radar de aldrabices.
Nunca acreditei neste governo, não votei em nenhum dos partidos da coligação e onde havia quem visse consenso, eu só conseguia ver uma maioria que nada mais era do que um muro de betão onde se iriam esboroar as nossas lamentações. Não me alegrei nem afiei facas quando o senhor que está em Paris bateu com a portinhola. Tinha o instinto de que atrás dele poderia vir bicho muito, muito pior. Sem dúvida, é um instinto que gostaria de ter visto totalmente gorado. Não há prazer em dizer «bem vos avisei» (até porque não avisei ninguém, guardei as minhas profecias à la Cassandra só para os meus botões).
A noite passada fomos todos roubados, todos sem excepção. Foram roubados os pensionistas e reformados; os funcionários públicos e das empresas públicas (sim, o pessoal da TAP, da RTP e da REFER já ficou sem dois subsídios este ano, mas podem ser vendidos num qualquer leilão em São Paulo pelo sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros, do Solário e da Pasta Pepsodent); foram roubados os trabalhadores do privado, mas também o foram os empresários que estão todos contentes e a esfregar as mãozinhas sapudas com a mão-de-obra mais barata (é bom que se ponham a exclamar «me love you long time» como gente grande, pois vão vender... a pele - eu ainda sou uma senhora) e foram roubados os profissionais independentes porque vai haver menos dinheiro para recorrer aos seus serviços, da tradução à ida ao dentista.
Já passou o tempo de agir e eu deixei-o passar. Não voltarei a cometer o mesmo erro, pois não posso deixar esta corja destruir o meu país, o nosso país, a nossa casa onde estão a entrar ao pontapé, partindo e roubando tudo. Este é, pois, o tempo de reagir. Ainda podemos manifestar-nos; ainda podemos escrever; ainda podemos falar; ainda podemos inundar a presidência da república, os nossos deputados, os nossos presidentes da câmara de e-mails e cartas; ainda podemos ir para a rua gritar e eu vou gritar (quem me conhece pessoalmente sabe que os meus gritos não são nada agradáveis).
Amigos que me lêem, pensem também em reagir um bocadinho: nós contamos, nós valemos qualquer coisa. Não somos estúpidos, não somos simplórios, não temos medo. Somos gente de bem, somos gente pacata, somos gente ordeira, mas esta casa é nossa. Não somos o velho cavalo que puxava o moinho, não temos palas, não somos obrigados a viver no consolo da escuridão, eternamente guiados por um qualquer amo.
Deixo-vos com dois versos de Dylan Thomas:

Do not go gentle into that good night
Rage, rage agains the dying of the light.

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