terça-feira, 24 de julho de 2012

De repente... estou a ficar velha

Quando era pequenina, os meus Verões eram passados na Serra da Estrela (pelo menos, até ao fatídico mês de Agosto, altura em que os meus excelentíssimos paizinhos tinham férias e nos arrastavam para as águas saudáveis e geladas da Ericeira enquanto os meus amigos chapinhavam no Algarve). Ora, dizia eu que passava os meus Verões na Serra e esta era repleta de encanto, altos pinheiros, nascentes frescas e cheias de seixos, um verde glorioso e poucas casas.
Há sete anos que não ia à serra e este fim-de-semana deparei-me com um espectáculo totalmente distinto: a serra está mais sofisticada; há funiculares nas ruas da Covilhã para ajudar a eliminar aquelas alturas impossíveis; a cidade surge alva, altaneira e imponente e, à distância, vemos uma enorme grua estacionada nas obras do antigo sanatório, que irá ser convertido num espectacular hotel de luxo.
Porém, com a sofisticação, quebrou-se o encanto da magia do estar só na serra. Há cartazes nas Penhas da Saúde que publicitam ali a construção de uma aldeia de montanha, tudo em contraste com os lanifícios abandonados que pululam em cada esquina da vila do Tortosendo e que me levam ao tempo em que o almoço era pautado pela sirene das mil-e-uma fábricas em uníssono (o meu avô não trabalhava numa delas, mas ao ouvir a sirene, também nós sabíamos que ele estaria a chegar).
Dizem-me que é o progresso e o progresso alegra-me, juro. Alegra-me já não ver miúdos ranhosos e com os pés descalços por aquelas aldeias, mas entristece-me saber que, no Natal, os lobos provavelmente não descem a serra até às vilas em busca de alimento (de preferência, na forma de algum cão ou gato abandonado). Entristece-me ver os nobres cães da Serra como pouco mais do que chamarizes turísticos na beira da estrada do Sabugueiro, sabendo que aqueles cachorros, que nasceram para guardar rebanhos, irão acabar, na melhor das hipóteses, a rebentar de calor nos jardins de uma vivenda em Santo Estêvão (ou talvez não, que os cães da moda são os Labradores, mesmo que sejam tapados que nem portas).
Dizem-me que isto é crescer, este misto de alegria e tristeza, este agridoce que me enche o peito. Dizem-me que não tenho saudades dos rebanhos ou do cheiro dos seixos do rio (cheiro a água, pura e metálica). Dizem-me que tenho apenas saudades de ser criança e que, como fui criança na serra, é da serra da minha infância que tenho saudades.
Dizem-me que, de mansinho, de repente, estou a ficar velha.

1 comentário:

  1. Ao ler este texto fiz uma pequena viagem até à minha infância e às férias passadas na montanha... Onde, ignorávamos as televisões, quando não havia internet,quando as crianças não precisavam de uma psp, quando ninguém tinha telemóveis (havia horários a cumprir!)... Iamos apanhar amoras e ameixas, fazer teatros na rua,correr pelos campos, apanhar escorpiões, and so on... Tempo em que acho, sinceramente, que as crianças eram mais felizes...

    Parabéns pelo blog! :)

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