quarta-feira, 11 de julho de 2012

Da amamentação

Vocês não sabem, mas sou mãe de duas crianças quase sempre adoráveis. A mais velha já é alta e espadaúda, tem opinião sobre tudo e dedica-se, depois das notas miseráveis que coleccionou este ano a matemática, a escrever um livro estas férias (pois, só faz mesmo o que lhe dá na real telha). O mais novo é ainda um bebé, do qual só podemos dizer que tem sido um gordalhufo simpático desde que nasceu, com tendência para a bonacheirice, mas com ar de quem vai ser muito senhor do seu nariz (para não degenerar muito do resto do clã).
Ora, apesar de ter tido pouco sucesso na amamentação da minha filha mais velha, decidi, munida de mil e um fantasmas, voltar a tentar dar de mamar desta vez. E resultou. Resultou tanto que, até agora (e já lá vão oito meses e qualquer coisa), tenho amamentado.
O problema é que eu não gosto lá muito de dar de mamar. Não caia já o Carmo e a Trindade! O que se passa é que, apesar de adorar o elo evidente de ligação entre mim e o meu filho, apesar me derreter completamente com a satisfação com que bebe o leitinho da sua mamã e, acima de tudo, apesar de me sentir super-orgulhosa por conseguir fazer algo que lhe é tão salutar, a verdade é que odeio a prisão. Odeio não poder fumar um cigarro ou beber uma marguerita; odeio não poder tomar mestrunfices para emagrecer, como faço todos os verões (já estão a ver como sou saudável, não?) ou um simples Dolviran para uma dor de cabeça mais forte e odeio, most of all, não ser totalmente dona do meu corpo, ter parte de mim a empréstimo. Porém, consigo ultrapassá-lo porque sou uma mãe galinha de primeira apanha.
O que se passa é que, esta semana, me aconteceu algo que não nos dizem nos cursos de preparação: o sacana do miúdo já tem dentes e tem-me mordido o peito todo! Assim, um momento que não era o meu preferido, mas que era amplamente recompensado pelo bem que fazia ao meu filho tornou-se num momento de puro terror. Estou, constantemente, a retrair-me com medo de que me morda, sentindo-me completamente sitiada, o que retira completamente a aura simbiótica da coisa.
Depois de uma sessão de mordidelas ontem à noite, decidi, após convénio com o meu doce marido, dar por terminada a amamentação.
E hoje foi um dia absolutamente terrível, em que chorei baba e ranho por coisitas insignificantes e sentindo-me, enquanto comprava os biberões da praxe na Chicco e o leite na farmácia, como num dos piores dias da minha vida. Triste que só. Nem saber que podia finalmente fazer cavitação me animava. Sentia-me péssima. Chegada a hora da maminha, lá veio o meu marido munido do biberão com o líquido artificial, mas a cria, apesar de esganada de fome, deu dois goles e chorou, fez beicinho, com o queixinho a tremer e tudo, sem, no meio de tudo isto, deixar de olhar para o meu peito, lançando-me olhares suplicantes. Ou seja, era escusado estar a tentar enganá-lo, pois sabia bem o que era the real deal.
E assim foi: não resisti, peguei-lhe e dei-lhe de mamar. Todo o meu ser tinha de acalmar aquele desconsolo que lhe parecia vir do fundo da alma. Assim adormeceu, pacificamente, no meu regaço e eu senti um conforto extremo por poder dar esta felicidade ao meu filho. 
Vi-me assim derrotada e escrevo agora com a certeza de que a maminha se irá prolongar por mais uns tempos. Pelo sim, pelo não, vou sonhando com a cavitação cobiçada, pode ser que a cria se deixe enganar um dia destes...

Sem comentários:

Enviar um comentário