quarta-feira, 25 de julho de 2012

Dia um da dieta

Vocês não têm dias de luta inglória? Dias em que pensam que o melhor teria sido ficarem na caminha???
Passo a explicar: assombrada pelos quilos remanescentes da minha última gravidez, decidi hoje começar a ter um pouco mais de cuidado com a minha dieta, mesmo a tempo (not!) de não assustar a minha família quando virem a versão J.-baleia na praia. Assim, portei-me super-hiper-mega-bem. Tomei pequeno-almoço, almocei um queijinho fresco e uma sopinha e bebi água. O pior é que depois, ao lanche, já só bebi um café e fui ao super cheia de vontade de comprar muuuuita porcaria. Porém, lá me arrastei com o carrinho do bebé por entre corredores estreitos, a fazer gincana para não atropelar as velhinhas que abundam aqui no meu bairro e que me parecem viver no super local e... e portei-me bem: só comprei produtos saudáveis.
Chegada a casa, teria tudo para acabar o dia em beleza, já que hoje é dia de cabaz e, portanto, dia de sopa com produtos biológicos e de fazer uma bela massada de legumes na wok.
O pior é que tenho uma besta de 43 quilos que está obcecada com um taco do chão e que o rói quando se sente só e abandonada, pelo que, quando cheguei a casinha, tendo arrastado o bebé, o carrinho e as compras pelas calçadas deste bairro (que reflectem a luz e tal, mas não são amigas dos carrinhos), tive de castigar a besta mandando-a para o canto do castigo na cozinha, repor o taco e começar a tentar dar um pouco de ordem à casa.
Entretanto, recebo mil-e-um telefonemas da minha mãe, ocupada a encher os netos de roupa e, quando finalmente a consigo despachar, percebo que o bebé está absolutamente fedorento e tem de ser trocado (o meu marido está a trabalhar até tarde e só vem à noitinha...).
Bebé trocado, reparo que sujou os lençóis. Não faz mal nenhum, pois troco por um conjunto lavado e hoje já tenho roupa para uma máquina só dele. Troco a roupa e reparo que a criança, que descobriu agora as alegrias do gatinhanço, está absolutamente insuportável com o sono. Tudo bem, faço-lhe o jantar, é um instante (e aproveito e concedo perdão à gordalhufa da cadela, recompensando-a com uma cenoura).
O bebé chora enquanto janta porque está para lá de Marraquexe com o sono, mas a coisa vai e o meu tio passa por aqui para passear a besta (eu não consigo porque ela pesa quase tanto quanto eu e ele é um santo que devia ser canonizado e faz-me esse favor quando o homem da casa não está). 
Fico feliz porque o bebé adormece logo a seguir ao jantar, mas a besta regressa e entra pela sala a ladrar furiosamente, pois estão a passar na rua os buldogues franceses do vizinho do lado, aos quais tem um ódio visceral. O bebé acorda. Demoro cinco segundos a perceber que hoje não há método Estivil para ninguém, porque estou cansada e tento adormecê-lo ao colo.
Voltam a ligar e nem sei quem é... Novo telefonema e, desta vez, é uma amiga minha, mas o bebé já dorme, missão cumprida. Ela, coitada, pela minha voz deve ter pensado que eu me ia atirar da janela com o cansaço, mas não.
Começo a dirigir-me para a cozinha para cozinhar o meu jantar saudável, mas decido vir dar uma espreitadela ao blog, só para ver se ele ainda aqui está.
Agora, já vi que o blog está bem, mas só de pensar que tenho de cozinhar, uma força invisível prende-me ao sofá, onde a besta está agora aninhada, cheia de vontade de receber miminhos.
Conclusão: assim se estraga uma dieta perfeitamente boa logo no primeiro dia. Não há esperança para o meu estado de baleia.

terça-feira, 24 de julho de 2012

De repente... estou a ficar velha

Quando era pequenina, os meus Verões eram passados na Serra da Estrela (pelo menos, até ao fatídico mês de Agosto, altura em que os meus excelentíssimos paizinhos tinham férias e nos arrastavam para as águas saudáveis e geladas da Ericeira enquanto os meus amigos chapinhavam no Algarve). Ora, dizia eu que passava os meus Verões na Serra e esta era repleta de encanto, altos pinheiros, nascentes frescas e cheias de seixos, um verde glorioso e poucas casas.
Há sete anos que não ia à serra e este fim-de-semana deparei-me com um espectáculo totalmente distinto: a serra está mais sofisticada; há funiculares nas ruas da Covilhã para ajudar a eliminar aquelas alturas impossíveis; a cidade surge alva, altaneira e imponente e, à distância, vemos uma enorme grua estacionada nas obras do antigo sanatório, que irá ser convertido num espectacular hotel de luxo.
Porém, com a sofisticação, quebrou-se o encanto da magia do estar só na serra. Há cartazes nas Penhas da Saúde que publicitam ali a construção de uma aldeia de montanha, tudo em contraste com os lanifícios abandonados que pululam em cada esquina da vila do Tortosendo e que me levam ao tempo em que o almoço era pautado pela sirene das mil-e-uma fábricas em uníssono (o meu avô não trabalhava numa delas, mas ao ouvir a sirene, também nós sabíamos que ele estaria a chegar).
Dizem-me que é o progresso e o progresso alegra-me, juro. Alegra-me já não ver miúdos ranhosos e com os pés descalços por aquelas aldeias, mas entristece-me saber que, no Natal, os lobos provavelmente não descem a serra até às vilas em busca de alimento (de preferência, na forma de algum cão ou gato abandonado). Entristece-me ver os nobres cães da Serra como pouco mais do que chamarizes turísticos na beira da estrada do Sabugueiro, sabendo que aqueles cachorros, que nasceram para guardar rebanhos, irão acabar, na melhor das hipóteses, a rebentar de calor nos jardins de uma vivenda em Santo Estêvão (ou talvez não, que os cães da moda são os Labradores, mesmo que sejam tapados que nem portas).
Dizem-me que isto é crescer, este misto de alegria e tristeza, este agridoce que me enche o peito. Dizem-me que não tenho saudades dos rebanhos ou do cheiro dos seixos do rio (cheiro a água, pura e metálica). Dizem-me que tenho apenas saudades de ser criança e que, como fui criança na serra, é da serra da minha infância que tenho saudades.
Dizem-me que, de mansinho, de repente, estou a ficar velha.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Da amamentação

Vocês não sabem, mas sou mãe de duas crianças quase sempre adoráveis. A mais velha já é alta e espadaúda, tem opinião sobre tudo e dedica-se, depois das notas miseráveis que coleccionou este ano a matemática, a escrever um livro estas férias (pois, só faz mesmo o que lhe dá na real telha). O mais novo é ainda um bebé, do qual só podemos dizer que tem sido um gordalhufo simpático desde que nasceu, com tendência para a bonacheirice, mas com ar de quem vai ser muito senhor do seu nariz (para não degenerar muito do resto do clã).
Ora, apesar de ter tido pouco sucesso na amamentação da minha filha mais velha, decidi, munida de mil e um fantasmas, voltar a tentar dar de mamar desta vez. E resultou. Resultou tanto que, até agora (e já lá vão oito meses e qualquer coisa), tenho amamentado.
O problema é que eu não gosto lá muito de dar de mamar. Não caia já o Carmo e a Trindade! O que se passa é que, apesar de adorar o elo evidente de ligação entre mim e o meu filho, apesar me derreter completamente com a satisfação com que bebe o leitinho da sua mamã e, acima de tudo, apesar de me sentir super-orgulhosa por conseguir fazer algo que lhe é tão salutar, a verdade é que odeio a prisão. Odeio não poder fumar um cigarro ou beber uma marguerita; odeio não poder tomar mestrunfices para emagrecer, como faço todos os verões (já estão a ver como sou saudável, não?) ou um simples Dolviran para uma dor de cabeça mais forte e odeio, most of all, não ser totalmente dona do meu corpo, ter parte de mim a empréstimo. Porém, consigo ultrapassá-lo porque sou uma mãe galinha de primeira apanha.
O que se passa é que, esta semana, me aconteceu algo que não nos dizem nos cursos de preparação: o sacana do miúdo já tem dentes e tem-me mordido o peito todo! Assim, um momento que não era o meu preferido, mas que era amplamente recompensado pelo bem que fazia ao meu filho tornou-se num momento de puro terror. Estou, constantemente, a retrair-me com medo de que me morda, sentindo-me completamente sitiada, o que retira completamente a aura simbiótica da coisa.
Depois de uma sessão de mordidelas ontem à noite, decidi, após convénio com o meu doce marido, dar por terminada a amamentação.
E hoje foi um dia absolutamente terrível, em que chorei baba e ranho por coisitas insignificantes e sentindo-me, enquanto comprava os biberões da praxe na Chicco e o leite na farmácia, como num dos piores dias da minha vida. Triste que só. Nem saber que podia finalmente fazer cavitação me animava. Sentia-me péssima. Chegada a hora da maminha, lá veio o meu marido munido do biberão com o líquido artificial, mas a cria, apesar de esganada de fome, deu dois goles e chorou, fez beicinho, com o queixinho a tremer e tudo, sem, no meio de tudo isto, deixar de olhar para o meu peito, lançando-me olhares suplicantes. Ou seja, era escusado estar a tentar enganá-lo, pois sabia bem o que era the real deal.
E assim foi: não resisti, peguei-lhe e dei-lhe de mamar. Todo o meu ser tinha de acalmar aquele desconsolo que lhe parecia vir do fundo da alma. Assim adormeceu, pacificamente, no meu regaço e eu senti um conforto extremo por poder dar esta felicidade ao meu filho. 
Vi-me assim derrotada e escrevo agora com a certeza de que a maminha se irá prolongar por mais uns tempos. Pelo sim, pelo não, vou sonhando com a cavitação cobiçada, pode ser que a cria se deixe enganar um dia destes...

domingo, 8 de julho de 2012

Sai uma Água das Pedras

Passo eu aqui os dias combalida, a pensar que nada de novo sucede, que as notícias se assemelham sempre ao mesmo, quando, de repente, passo uma semana sem televisão e Internet, desterrada num sossego tão bom, para regressar a um mundo em que a Espanha foi campeã outra vez (a Oriente, nada de novo); o Tribunal Constitucional ajuda o Passos Coelho a distribuir cacetada também pelos privados (num lar como o nosso, absolutamente 50/50, ficamos agora com a certezinha de que em vez dos subsídios de apenas um dos adultos, serão levados também os do outro) e, muito mais engraçado, o Relvas tirou a licenciatura na Farinha Amparo e à custa de enviar muitos cupões.
Sobre a Espanha, pouco me alongo, pois percebo muito pouco de bola.
Sobre o Tribunal Constitucional, vou esperar para ver, já que tenho a sensação de que muita água correrá ainda sob essa ponte.
No entanto, sobre o Sr. Dr. Relvas, tenho algumas considerações a tecer: não me interessa minimamente se tem ou não uma licenciatura, já que não entendo que esta seja indispensável à boa governação. O que me interessa, e muito, é o subterfúgio (legal, dizem as parangonas, amoral, digo eu) para alcançar o dito canudito. Se, por um lado, acho risível que se engendre tanto para obter uma reles licenciatura (let's face it, não estamos propriamente a falar do Santo Graal); por outro, como pessoa que se esfalfou numa universidade pública, com uma boa média, sem equivalências da treta, queimando pestanas e que não usa o Dr. nos cartões do banco nem em nada só porque parece bem, fico ofendida por me deparar com esta espécie de rato a fazer troça, com o seu canudo, daquilo que tenho como sagrado: o conhecimento. Uma criatura destas não pode governar Portugal, não é digna de o fazer. Um rato não é digno, sequer, de mencionar o nome do meu país. Posso não ser filha do Relvas, mas a minha falta de orgulho, o meu asco, devem contar para alguma coisa. Meus meninos, já brincaram, já pategaram, já bodegaram, mas agora, está na hora da caminha. Por favor, deixem os adultos governar.